Referência na capital paulista, os acidentes com animais peçonhentos, o Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, deverá transferir a atenção dos pacientes para o Hospital Emílio Ribas, especializado em infectologia.
Ainda não há uma data para a mudança, mas um anúncio informal realiza internamente a um grupo de empregados causou alvoroço nesta semana nas redes sociais e na área médica com os rumores de um possível fechamento do hospital, que tem quase 80 anos de história.
“Os médicos do Vital Brazil oferece orientações para os colegas de outros locais em relação com o diagnóstico e a prescrição para as pessoas acidentadas. Quem vai responder a essa demanda com o encerramento se o serviço de referência, não existe mais?”, pergunta Gerson Salvador, diretor do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo).
A polêmica ocorre em um momento em que crescem os casos e as mortes por picadas de escorpião no estado de São Paulo. No ano passado, foram 26.929 notificações, com 12 mortes. No Brasil, foram 20 no total.
Segundo Salvador, os acidentes com animais peçonhentos afetam principalmente as pessoas mais pobres que vivem nas periferias das zonas rurais ou de mata.
“São doenças negligenciadas e, em vez de o governo de ampliar o acesso ao tratamento, redução dos recursos em um hospital que custa muito pouco para o estado de São Paulo. O impacto econômico não justifica o encerramento do serviço.”
Dimas Diego Cavernas, diretor do Instituto Butantan, diz que o serviço não será interrompido. Ele explica que está sendo elaborado um plano estadual para melhorar o atendimento a acidentes com animais peçonhentos e que a mudança no Hospital Vital Brazil é parte deste projeto.
A ideia, diz Cavernas, é transferir a parte assistencial para uma ala reformada do Emílio Ribas. “O Hospital Vital Brazil, seria uma porta de entrada diferenciada na avenida doutor Arnaldo, ao lado de Emílio Ribas. A ideia está posta, mas ainda não há definição de prazos estabelecidos pela secretaria [de estado da saúde]”, diz.
De acordo com o diretor do instituto Butantan, o Vital Brazil não está integrado à rede hospitalar estadual. “É um hospital público, mas não dispõe de camas para a rede, não tem unidade de cuidados intensivos. Tem uma grande importância, realiza estudos, mas tem que evoluir. Precisa atender casos graves de envenenamento, agir sobre os problemas mais complexos”, afirma ele.
No ano passado, o serviço atendeu a 700 pessoas, uma média de duas por dia. “Nem todos foram internados no hospital, a maioria da atenção ambulatorial. A média de custo de um serviço de atendimento desta estrutura é dez vezes mais do que um custo médio de um hospital do sus. Isso gera uma subutilização dos equipamentos e cria distorções grandes dentro do sistema”, diz o diretor. “O planejamento é para melhorar o serviço, aumentar as atividades, integrar com a telemedicina. Queremos que o Vital Brazil volte a ser, de fato, uma referência em envenenamentos para o estado e o Brasil.”
Entre as propostas contidas no plano estadual, está o aumento da produção de soros antienvenamento. “Em pleno século 21, é difícil aceitar que uma criança morra por picada de escorpião no estado de São Paulo”, diz ele.
Em 2018, foram nove crianças entre as mortes por picadas de escorpião. Nicoly, 9, de Bariri (SP), morreu em novembro do ano passado. A menina foi atacada no quintal da casa, recebeu o soro, mas teve várias paradas cardiorrespiratórias.
De acordo com Cavernas, a ideia com o novo plano é que o soro está disponível para um máximo de meia hora no local do acidente. “Se você passar desse prazo, o risco de morte é grande.”
A pedido do Ministério da Saúde, a produção de soro do Butantan vai passar de 350 mil para 850 mil no próximo ano. “Reformamos toda a estrutura para aumentar a produção dos 12 tipos de soros que produzimos. Atualizado fazenda, onde os cavalos são criados e introduzimos uma nova forma de recolher o plasma dos animais”.
Os principais soros que o instituto Butantan produz são os anti-ofídicos (contra o veneno de cobra), o antiescorpiônico, contra o veneno das aranhas (loxoceles), o antilagarta (taturana). O instituto fabrica ainda antirrábico e o antidiftérico.
Mas, segundo ele, não basta aumentar a oferta do soro. Será necessário criar mais lugares em que está disponível e melhorar a capacitação dos médicos da rede para o serviço.
“Um dos gargalos que temos é que nossos médicos não estão preparados para atender de forma adequada, para reconhecer a cobra, por exemplo. Às vezes, eles não têm acesso aos protocolos”, explica.
A descentralização da oferta de soro de leite também está sendo estudada. Atualmente, toda a produção vai para o Ministério da Saúde, que redistribui para os estados e municípios de acordo com o número de casos do ano anterior.
Mais informações sobre os escorpiões
Reprodução
Algumas espécies, como o Tityus serrulatus e Tityus stigmurus, se reproduzem por real, ou seja, a fêmea é capaz de gerar outras fêmeas por si mesmo, sem a necessidade de um indivíduo macho
O T. serrulatus produz ceca de 20 filhotes por ninhada, em torno de três a quatro vezes por ano
Depois que os filhotes nascem, ficam nas costas da mãe por duas semanas, até que tenham uma vida independente
Os escorpiões podem viver até os 3 ou 4 anos em cativeiro
Alimentação
Entre os alimentos favoritos de estes aracnídeos são as baratas. É possível encontrar escorpiões, onde os insetos costumam habitar, como cemitérios ou esgotos. Também comem grilos, aranhas e pequenos vertebrados
Predadores
Alguns animais se alimentam de escorpiões, como seriema, corujas, sapos, gambás, louva a deus, morcegos e aranhas
As galinhas também comem escorpiões, mas eles são diurnas. Por isso, esta não é uma boa medida de controle
Esconderijos
Os animais procuram abrigo em lugares como pilhas de entulho, móveis, sapatos, roupas, caixas de energia e lixeiras
Prevenção
Eles são mais ativos no calor e são noturnos
Para evitar acidentes, é possível adotar medidas como:
Sacudir a roupa e o calçado,
Não colocar as mãos em buracos, em troncos podres ou sob pedras
Use a proteção ao manipular jardim e material de construção
Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem no chão
Evitar pendurar roupas nas paredes e as portas
Sintomas
As crianças pequenas e os idosos são os que mais sofrem
A picada pode causar:
Dor local
O suor excessivo
Náuseas
Agitação
Vómitos
Alteração de pressão
Arritmia
Edema pulmonar
Choque
Morte
Tratamento
Em caso de picada deve ser:
Lavar o local com água e sabão
Aplicar compressa morna
Procurar o serviço de saúde
No serviço de saúde
Podem ser utilizados anestésicos e analgésicos, além de soro antiescorpiônico ou antiaracnídico (quando não se sabe o bicho que é empurrado)
O que não deve fazer
Colocar gelo ou água fria
Torniquete
Furar ou cortar o local
Tentar sugar o veneno
Usar álcool, querosene, fumo ou pó de café
Fonte: Folha de S. Paulo