Venezuelanos compram medicamentos no mercado negro e o paracetamol chega a custar mais que um salário mínimo | Panorama Farmacêutico – Imã de geladeira e Gráfica Mavicle-Promo

Exclusivo:
falamos com Heitor Barreto, farmacêutico e proprietário da farmácia
manipulação, sobre a falta de medicamentos no Brasil e a crise que abala a sustentabilidade
as farmácias venezuelanas.

Mesmo
a distância, é possível perceber a angústia e a preocupação que tomam conta de
Heitor Barreto, farmacêutico, professor nas áreas de Química, Bioquímica e
Farmacologia, presidente da Associação Farmacêutica da Delta Amacuro e
ex-presidente da Associação Farmacêutica do Estado de Monagas, Venezuela. Há
cinco anos, acompanha e se sente na pele as consequências da crise que se
se estabeleceu no país em todas as áreas, principalmente na saúde. O proprietário
uma farmácia de manipulação e autor do Hino do Farmacêutico venezuelano,
Barreto conta, nesta entrevista, como as farmácias e a população estão
sobrevivendo ao governo de Nicolás Maduro. Atualmente, o Brasil tem 5,2 mil
farmácias e mais de 15 mil farmacêuticos. Leia abaixo.

Revista
de Farmácias: Por que faltam medicamentos nas farmácias venezuelanas?

Hector
Barreto: Devido à falta de produção de medicamentos na indústria nacional.
A indústria farmacêutica, no Brasil, existem dois grandes grupos: os laboratórios
nacionais e as multinacionais ou transnacionais, em que há muito pouca
a produção no país. Obter a matéria-prima é muito difícil. Há cerca de 20 anos, a
A Venezuela é a terceira maior indústria farmacêutica na América Latina. Aqui
estavam quase todas as multinacionais, produzindo e exportando para a
a comunidade andina. Agora, é o contrário: quase nenhuma produção de medicamentos em
país. Tudo isso fruto do governo do ex-presidente Hugo Chávez, que foi implementado
uma campanha de expropriação de todos os tipos de indústrias, desde há cerca de dez
anos e, pouco a pouco, acaba com todo o parque industrial da Venezuela.

RF:
Desde quando faltam medicamentos?

Barreto:
medicamentos estão em falta há cerca de cinco anos, quando as indústrias
farmacêuticas multinacionais instaladas aqui começaram a fechar as portas e a
deixar a Venezuela por causa das políticas de expropriação que o governo
nacional foi implementada. Outro fator que contribuiu para o êxodo industrial foi a
a recusa em conceder a moeda necessária para a importação de matéria-prima, o
que também afetou a indústria nacional. Tínhamos unidades de produção da
Pfizer, Novartis, Bayer, Schering e muitas outras, que infelizmente se foram do
país. Os que ficaram estão produzindo muito poucas moléculas.

RF:
Que tipo de medicamentos estão em falta?

Barreto: Tudo
tipo de medicamentos para as mais diversas patologias.

RF:
Como as farmácias foram fornecidos no momento?

Barreto:
ausência de produção necessária e suficiente, as drogas chegam com muita
dificuldade para as farmácias, que trabalharam graças aos nossos esforços,
tentando ajudar os pacientes com os poucos medicamentos que estão disponíveis.
A oferta vem diminuindo pouco a pouco, o que tem como consequência da farmácia com
estoques muito baixos. Este cenário provoca a entrada de medicamentos sem
controle sanitário algum na Venezuela. As autoridades de saúde não estão
fazendo nada para garantir a saúde dos venezuelanos.

RF:
Como se deu esse comércio irregular de medicamentos?

Barreto:
medicamentos do mercado negro começaram a entrar no país há cerca de cinco,
quando a escassez se acentuou. Eles começaram a chegar pela Colômbia e por
Brasil, e depois, com a República Dominicana. As pessoas descobriram sobre isso um
negócio rentável, no entanto, sem ter noção dos riscos que os medicamentos
representam. Entre os produtos estão vacinas e insulinas, que não são
conservadas à temperatura necessária. O governo, por sua vez, tornou-se
importador de medicamentos em violação às normas do Ministério da Saúde e do
O Instituto Nacional de Higiene.

Nossos
os idosos passam até 24 horas nas portas dos bancos para receber uma pensão de 18
mil bolívares. Como vão comprar medicamentos para doenças crônicas que podem
custar até 70 mil bolívares?

RF:
De que forma o governo interfere no setor?

Barreto: O
o governo intervém de duas formas: regulando o preço dos medicamentos
constante revisão e a negação da moeda necessária para o bom funcionamento da
a indústria farmacêutica, já que todos os que precisam fazer uma transação em moeda
estrangeira devem ser autorizados pelo governo, que restringe o valor total e o
preço do dólar.

RF:
Como a população está vivendo sem medicamentos importantes?

Barreto: Para
a população tem sido uma odisseia. São pacientes crônicos tentando sobreviver
com medicamentos enviados do exterior. Mas é claro que 80% não têm acesso por
por causa dos altos custos que representam. Além disso, a grande escassez de
os antibióticos fez com que praticamente todas as infecções sejam tratadas
com apenas dois ou três antibióticos. Surgiu um mercado negro de medicamentos em
que muitas pessoas desesperadas adquirem medicamentos sem o menor controle
de saúde e a preços muito altos. Vale a pena também mencionar que, à vista
a escassez nas instituições públicas, as pessoas estão, cada vez mais, consumindo
medicamentos vencidos.

RF:
Como esta crise tem afetado a sustentabilidade financeira das farmácias?

Barreto:
farmácias sofreram uma grande descapitalização. Por isso, tivemos que recorrer a
financiamento bancário para tentar manter o patrimônio. Cerca de 7% das
farmácias viram a necessidade de fechar as portas. O que é pior ainda: as nossas
cidades e bairros mais humildes estão ficando sem serviços farmacêuticos.

RF:
De que forma as associações farmacêuticas e os profissionais de farmácias estão
mobilizando-se para compensar a falta de medicamentos? Quais medidas estão sendo
tomas?

Barreto: A
A federação Farmacêutica Venezuela, e as diferentes faculdades de Farmácia do
país estão mobilizadas, insistindo com propostas perante as autoridades, que
estão surdos. Entre as medidas estão as associações entre as farmácias, que é
reuniram-algo assim como o associativismo no Brasil) para obter melhores
condições de compra junto às drogarias (no Brasil, distribuidoras), que são
os intermediários entre os laboratórios e farmácias. Nos últimos tempos, as
distribuidoras implantaram políticas muito duras, passando a vender apenas em
dinheiro ou em condições pré-pago, ou seja, paga-se primeiro para depois
receber os medicamentos.

RF:
Como são definidos os preços dos medicamentos no Brasil?

Barreto: Existe
um grupo de medicamentos que cobre quase todas as patologias. Este grupo é
regulamentado pelo governo. Mas, apesar de a inflação e a eliminação dos
dólares preferíveis, os preços não são analisados há mais de dez anos. Já o
modelo de reajuste de preços de medicamentos que não estão regulamentados mudou em
2018. Até 2017, existia o dólar preferível, uma moeda criada para alimentos e
medicamentos. Cada dólar preferível equivalia a 10 bolívares. No ano passado, o
o governo eliminou o controle e os preços passaram a ser trocados por dólar
livre. Hoje em dia, o dólar Dicom* está em torno de 3.200 bolívares.

RF:
E como é feito o reajuste dos preços com uma taxa de inflação de 1.000.000% ao ano?

Barreto:
os preços sofreram uma variação quase diária de 5.000%, o que influencia
diretamente o funcionamento das farmácias e reduz o poder de compra dos
doentes.

RF:
E como está a assistência farmacêutica pública? Se houver falta nas farmácias
privadas, ao menos o governo distribui de forma gratuita para a população?

Barreto: A
assistência farmacêutica pública, no Brasil, tem sido muito completa em todos
os hospitais. A Segurança Social concedida medicamentos de alto custo, por
exemplo, para os pacientes com câncer. No entanto, agora não se distribuem regularmente
e todos estes pacientes devem ser adquiridos no mercado externo, o que geralmente
faz com que os medicamentos inacessíveis para muitas pessoas.

RF:
Sendo o farmacêutico, como você se sente em relação a este problema, que é de
saúde pública?

Barreto: Eu Me Sinto Muito
tristeza e uma dor profunda em ver nossos pacientes sofrem por não poder
comprar medicamentos para a dor de cabeça. Por exemplo, um Atamel
(Acetaminofeno**) de 10 comprimidos pode custar mais que um salário mínimo mensal.
Isso nos faz ver pacientes com grande preocupação, perambulando pelas
diferentes farmácias e muitos deles chorando de desespero. Nossos idosos passam
até 24 horas nas portas dos bancos para receber uma pensão de 18 mil bolívares.
Como vão comprar medicamentos para doenças crônicas que podem custar até 70 mil
bolívares?

RF:
Como se espera ou imagina-se que tudo isso acabará?

Barreto: O
o cenário atual é de cor cinza, mas estamos seguros de que a nossa formação
profissional será um fator-chave para o ressurgimento das farmácias e,
é claro que, com o apoio que você pode receber de diferentes organizações nacionais e
internacionais. Espero e tenho a maior convicção de que este pesadelo vai acabar
muito em breve, e a Venezuela poderá ter de novo as indústrias necessárias,
porque há 20 anos, éramos a terceira maior indústria farmacêutica da América
Latina.

* Dicom é o sistema de câmbio na Venezuela, que estabelece uma série de normas e regras que devem ser atendidas para comprar dólares. Não se pode comprar a quantidade que quiser, mas a quantidade que o governo autoriza.

Fonte: Portal da Revista da Farmácia

Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2019/02/28/venezuelanos-compram-medicamentos-no-mercado-negro-e-paracetamol-chega-a-custar-mais-que-um-salario-minimo

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