Os desafios das bactérias multirresistentes | Panorama Farmacêutico – Imã de geladeira e Gráfica Mavicle-Promo

O uso de antibióticos na prática clínica é uma ferramenta importante para todas as especialidades médicas, especialmente no caso de pacientes que têm o sistema imunológico mais fraco e são mais susceptíveis a infecções, como é o caso daqueles em tratamento para o câncer ou diabetes. Por seu lado, o uso inadequado desses medicamentos também se relaciona com o grave problema da resistência bacteriana, considerada uma das principais ameaças para a saúde global da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A resistência bacteriana pode afetar qualquer pessoa, em qualquer idade ou país, ameaçando com a possibilidade de tratar infecções graves. Estimativas da OMS indicam que, a partir de 2050, mais de 10 milhões de pessoas morrem por ano por causa do problema, superando o número de mortes por câncer, que hoje chega a 8,8 milhões. Atualmente, cerca de 700 mil mortes por ano são atribuídas à resistência bacteriana no mundo, o que reforça a necessidade de ações integradas, envolvendo o ambiente hospitalar e na comunidade.

Neste cenário, a OMS vem exigindo dos países de planejamento e execução de planos nacionais que possam conter o problema e otimizar o uso dos antibióticos, considerando as necessidades de cada local. Dados do Sistema Global de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (Glass), que se referem às 22 países e foram divulgados recentemente, mostram que as bactérias resistentes, mais freqüentemente relatadas produzem enzimas que inativam antibióticos e carbapenens, como a Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase (KPC) e Staphylococcus aureus meticilina resistente (MRSA).

Infecções por bactérias que expressam KPC refletem um problema importante e até comum em vários hospitais do país, com altas taxas de mortalidade atribuída, acima de 50%. E, como essas bactérias são resistentes a praticamente todos os antibióticos disponíveis atualmente no país, representam uma grande dificuldade terapêutica. Últimos dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que a resistência bacteriana é um problema que vem aumentando no ambiente hospitalar e na comunidade. Na comunidade, o problema está relacionado com o uso inadequado dos antibióticos e das condições de saneamento inadequadas.

O efetivo combate à resistência bacteriana deve ser um processo integrado entre os setores de saúde humana, veterinária e agricultura. Protocolos médicos são importantes, mas a população também pode contribuir na luta contra o problema seguindo as diretrizes de indicação e tempo de utilização dos antibióticos, de acordo com a prescrição médica. O correto diagnóstico clínico e microbiológico também é imprescindível para que seja possível racionalizar as indicações destes medicamentos. E o resultado gerado pelo laboratório de microbiologia, em tempo hábil, por meio de culturas e antibiogramas, tem um papel fundamental na adequação e a escolha do antibiótico correto.

Há novas metodologias de laboratório que permitem a liberação de resultados muito adiantadas, as culturas e que devem ser incorporadas aos serviços públicos de forma mais completa. O laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), por exemplo, adquiriu, recentemente, os equipamentos que permitem a identificação de agentes infecciosos bacterianos com tempo bastante reduzido em comparação com os equipamentos tradicionais. Assim, o tempo de identificação de agentes bacterianos e fúngicos pode ser reduzido de cinco dias, a apenas 15 minutos.

O uso correto dos antibióticos, no tempo adequado, está associada a taxas reduzidas de mortalidade e a diminuição do tempo de hospitalização, o que otimiza recursos e pode salvar vidas. Esse cuidado vale, inclusive, para os novos antibióticos que devem chegar em breve ao Brasil para o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes, entre as quais se destacam a própria KPC e a Pseudomonas aeruginosa, ambas consideradas críticas pela OMS para o desenvolvimento de novas opções terapêuticas.

Neste cenário, é fundamental priorizar investimentos e um plano estratégico para que os laboratórios de microbiologia públicos possam ser tecnicamente equipados para fornecer um diagnóstico rápido e preciso do processo infeccioso. Apenas com dados locais, o trabalho em equipe multidisciplinar e instituições com avaliação microbiológica é que os médicos poderão adequar a terapia antimicrobiana aos seus pacientes, obtendo os melhores resultados e salvando vidas.

*Professora diretora médica do Serviço de Microbiologia do Laboratório Central do Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Fonte: Diário De Sevilha

Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2018/09/24/os-desafios-de-bactérias multirresistentes

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