De ajudante de farmácia, o rei das farmacinhas ” Panorama Farmacêutico – Imã de geladeira e Gráfica Mavicle-Promo

Tamascia em uma unidade da Super Popular, em São Paulo: o foco sobre as regiões ignoradas pelas grandes (Germano Lüders/EXAME)

O Brasil não pode ser mais o país do futebol, mas continua no topo quando o assunto é a farmácia. O país tem 78.358 drogarias, número que cresce, em média, 3% ao ano, com crise ou sem crise. Temos uma farmácia para cada 2.800 brasileiros, taxa quase duas vezes maior que a dos Estados Unidos. Ao contrário do que acontece ali, no entanto, onde grandes redes, como Walgreens e CVS, concentram quase 70% do mercado, a maioria das farmácias brasileiras não tem bandeira. Mas o mercado está mudando.

Em março, a maior rede do país, a RaiaDrogasil (agora RD), comprou a rede paulistana Onofre, formando um grupo que chega em 1875 unidades. A concentração deve continuar crescendo, mas os pequenos contra-atacar, em um movimento tão discreto como corajoso. Um número cada vez maior de unidades, está sempre unido em associações para negociar com fornecedores e ter acesso a ferramentas de gestão. Atualmente, 14.250 farmácias no Brasil estão reunidas em associações. Juntas, faturam 18,7 mil milhões de dólares por ano, ou 17% do mercado nacional.

À frente do movimento das associações está o paulista Edison Tamascia, presidente da Febrafar, a federação que reúne as associações de farmácias de todo o Brasil. Tamascia nasceu há 58 anos, Paranapuã, cidade paulista com 3.800 habitantes, e estudou apenas até os 10 anos de idade. Começou a trabalhar em farmácias, aos 14, lavando recipientes e seringas de vidro. Aos 30, deixou uma gerência na RD para comprar sua primeira farmácias em Piracicaba.

A experiência mostrou-lhe que os donos de farmácias precisam de ajuda para não sucumbir. Em 1996, criou-se uma associação em Piracicaba. No ano 2000, fundou a Febrafar, entidade que hoje reúne 59 associações de farmácias independentes — cerca de um terço do total de associações brasileiras. Presidida por Tamascia, desde a sua fundação, a Febrafar tem sob seu guarda-chuva 9.900 drogarias, que, juntas, faturaram 12,3 mil milhões de dólares em 2018.

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Tamascia tem uma dupla função como presidente da Febrafar e empresário. Em 2012, apostando na venda de genéricos, foi criada a rede de farmácias, Super Popular, hoje com 35 lojas no interior de São Paulo e Minas Gerais. Em 2014, viu a oportunidade para um negócio e montou a Farmarcas, empresa criada para a gestão de parcerias — em geral, algumas dezenas de farmácias municipais que se organizam. Hoje em dia, a Farmarcas gere nove associações, com 940 farmácias, que faturaram cerca de 2,4 mil milhões de dólares em 2018.

Separado apenas por um corredor, escritório da Farmarcas se mistura com o quartel-general da Febrafar, instalado em um edifício na Avenida Paulista. Tamascia chega para trabalhar todos os dias às 6: 30 horas. Costuma interromper reuniões para cumprimentar quem passa pelo corredor, e tem um armário cheio de chocolates para funcionários e convidados. “Olho para o mercado sem o viés de vitimização. É normal que o empresário acredita que a região dele, as coisas são mais difíceis, em que a concorrência é mais agressiva. A verdade é que há desafios e oportunidades para todos”, diz.

As farmácias reunidas em associações estão, em geral, nos pequenos municípios do interior e nas regiões periféricas das grandes cidades. São lugares fora do foco das grandes redes. A Febrafar ganha de 5% a 10% de vantagem na negociação com os fornecedores, entre os quais se encontram fabricantes de medicamentos como Hypera Pharma e Sandoz. As farmácias reunidas em associações ganham todas o mesmo nome, como se se tratasse de uma franquia, mas cada uma tem um dono e não há pagamento de royalties.

A associação ajuda a este comerciante a acompanhar os números do quadro. E a Febrafar fornece ferramentas de gestão do negócio e um programa de fidelização para os clientes. Em contrapartida, as farmácias pagam uma taxa para as associações (que varia de acordo com a entidade). As associações pagam 2.600 reais por mês, a Febrafar, que também recebe incentivos para a indústria. A entidade não tem fins lucrativos. O comerciante Eduardo Lobato Campos de Oliveira, de 30 anos, é um típico associado. Trabalha desde os 12 anos em farmácias fundada pelos tios na cidade mineira de Pitangui, de 25.000 habitantes. “Antes de nos associarmos, a gestão era na base do achismo. Nós fazíamos o registro de vendas até no saco de pão”, diz Oliveira.

Fundada em 1989, a unidade entrou em uma associação em 2008, juntou-se à Febrafar e também utiliza os serviços da Farmarcas. Com a mudança na gestão, a família abriu mais de oito lojas na região. Antes, a loja em Pitangui faturava 10.000 reais por mês, hoje às nove lojas da família tem uma renda mensal de 3 milhões de reais. As unidades afiliadas à Febrafar faturam, em média, 130.000 mensais — é mais do que a média das farmacinhas, mas é muito menos do que os cerca de 700 000 mensais de cada unidade da RD.

imagem11 04 2019 13 04 25imagem11-04-2019-13-04-25Loja da Leroy Merlin: as pequenas lojas de material de construção também se unem | Alexandre Battibugli

O modelo das associações tem proliferado em setores como os de pet shops, papelarias e lojas de material de construção. Em comum, esses setores têm a presença de grandes empresas como a Leroy Merlin em material de construção ou o Carrefour e o Pão de Açúcar nos mercados. Por lá, há associações de farmácias em países como Estados Unidos, Canadá, Itália e Espanha. No Brasil, as farmácias associadas começaram a se tornar um concorrente de peso para as grandes redes nos últimos dois a três anos, por movimentos paralelos.

Em 2017, a Anvisa acelerou a liberação de novos genéricos, ampliando a oferta e a disputa pelo consumidor da classe C. Além disso, as grandes redes passaram a olhar com mais atenção para o interior do país e para as regiões metropolitanas, e encontraram concorrentes já estabelecidos. As contas da Abrafarma, associação que reúne as maiores redes do setor, no país, há cerca de 1.000 cidades, que poderiam ter, mas ainda não têm, as lojas das grandes redes.

“Todos querem jogar no público AB, mas não há público AB para todos”, diz Julio Mottin Neto, presidente da Panvel, rede de drogarias com 418 lojas que tem uma forte presença no estado do Rio Grande do Sul. De 2005 a 2018, o número de farmácias no país cresceu 73%. O motor deste movimento é o envelhecimento da população. A Cada ano, 1 milhão de brasileiros, rompem a barreira dos 60 anos. Uma maior concorrência entre os grandes grupos e as associações fortalecidas, portanto, é inevitável.

As grandes redes continuam crescendo, mas com um foco cada vez maior na economia. A cearense Pague Menos, por exemplo, chegou a abrir 170 lojas em 2017. Em 2018, desceu a 141. “Nós Apostamos que o setor vai continuar crescendo e vamos continuar abrindo lojas. Mas a escolha dos lugares tem que ser mais cuidadosa, para não haver canibalização”, afirma Luiz Renato Novais, vice-presidente da rede. Para garantir a rentabilidade do negócio, a Pague Menos tem reduzido o número de funcionários por loja.

A Extrafarma, do Grupo Ultra, está em uma situação semelhante. Forte nos estados do Pará e com 433 lojas em todo o país, a rede diminuiu o ritmo de aberturas e fechou o ano de 2018, com um resultado operacional negativo de 47 milhões de reais. A rede busca melhorar sua operação registroística e a gestão de inventário para ganhar em produtividade.

imagem11 04 2019 13 04 33imagem11-04-2019-13-04-33Fabricante de medicamentos: as associações começam até um 10% de desconto | Omar Paixão

Quem segue abrindo lojas olha novas regiões e a aposta na tecnologia. Com uma cadeia de 1.300 unidades, o grupo DPSP, que reúne a Farmácia São Paulo e Pacheco, abriu uma média de 100 lojas por ano e a intenção de manter o ritmo. Entre as estratégias para fazer frente à concorrência, estão a reforma das unidades e criar a sua própria marca para produtos como vitaminas e higiene. “A farmácia tornou-se um lugar de conforto”, diz Marcelo Doll, presidente da DPSP.

Outra que mantém um crescimento constante, que é a líder da RD, que abriu 240 lojas, em 2018, e a intenção de manter esse ritmo em 2019. A rede faturou 15,5 milhões de dólares em 2018. Uma das principais estratégias de RD é oferecer cuidados de saúde em suas unidades. Uma recente decisão do governo permitiu que as drogarias brasileiras oferecer a vacinação, o que deve dar fôlego à estratégia. “Todo mundo vai mais vezes à farmácia que ao médico ou ao hospital. É uma possibilidade para melhorar o acesso à atenção primária de saúde no país”, diz Marcílio Pousada, presidente da RD. Outra meta é ampliar o comércio on-line, que hoje responde por apenas 8,5% das vendas do grupo.

A integração entre o comércio e o comércio eletrônico deve ser a nova frente de batalha entre as grandes redes e alianças. Com mais poder de investimento, as redes tendem a levar vantagem. Nos Estados Unidos, a varejista online Amazon pagou 1 milhão de dólares no ano passado por PillPack, empresa que vende medicamentos através da internet. Por aqui, a compra de medicamentos on-line ainda é tímida, mas as grandes empresas já abriram o olho para isso.

A Onofre, adquirida pela RD, é pioneira no setor e 45% de suas vendas são feitas através da internet. Na visão do rei das farmacinhas, as vendas eletrônicas não estão com nada. “O futuro da farmácia é zero e-commerce. Explico: na maioria das vezes, o cliente precisa, o remédio na hora. Um grande número de medicamentos requer a entrega da receita, e há uma farmácia em cada esquina. Por que o cliente vai comprar pela internet?”, diz Tamascia.

“As farmácias associadas têm dificuldade de integrar canais e a ação para ter uma operação on-line, e por isso não promovem a mudança. Este é o principal desafio delas hoje em dia”, afirma Alexandre van Beek, sócio-diretor da consultoria de varejo GS&Consult. A Febrafar posicionou suas tropas no solo. Agora é torcer para que o inimigo não ataque pelo ar.

Fonte: Exame


Fonte: panoramafarmaceutico.com.br/2019/04/11/auxiliar de farmácia-o-rei-de-farmacinhas

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